O Sagrado e o Profano na Majestosa Procissão do Corpo de Deus
A Festa do Corpus Christi, ou Corpo de Deus, celebra a presença real de Cristo na Eucaristia e remonta a 1264, ao pontificado de Urbano IV, que ordenou por Bula a solenização da primeira quinta-feira a seguir ao oitavo dia do Espírito Santo. A procissão começou, assim, por ser um cortejo de símbolos que representavam o poder de Deus e a realidade da Sua presença na Eucaristia, o Santíssimo Sacramento, aproximando-se o sagrado a todos e permitindo a participação da comunidade na celebração. Nela participava o poder concelhio, a quem cabia por imposição régia o seu financiamento e organização, e também os diversos mesteres, obrigados a contribuir para o engrandecimento da festa com as danças ou invenções previstas nos regimentos, e que davam a necessária componente de regozijo e alegria que a tão solene celebração se impunha.
Desde o séc. XIV que a celebração do Corpus Christi passou a ser comum em praticamente todas as vilas e cidades do reino, e Penafiel não terá sido exceção, mesmo antes de Arrifana de Sousa ser elevada à categoria de Vila. Atesta-o o facto de, em 1657, já se mencionar no Tombo das Festas do Corpo de Deus que esta celebração aqui se realizava por immemorial costume. A partir da segunda metade do séc. XVIII a procissão do Corpus Christi vai perdendo, por todo o país, os seus elementos profanos, primeiro por força da proibição de 1724, no reinado de D. João V, das danças integrarem a procissão, e, depois, pela extinção das Corporações dos Ofícios, em 1834. Estes fatores levaram ao desaparecimento destas manifestações populares ou, nalguns casos, à disseminação desses elementos por outras festas celebradas ao longo do ano e em contexto diferente.
Na majestosa procissão do Corpo de Deus de Penafiel, a persistência dos elementos que compõem a dimensão profana da festa, como a Bicha Serpe, os Bailes, o Estado de São Jorge, o Boi Bento, o Carro Triunfal e a Figura da Cidade, corre contra a tendência generalizada de evolução desta celebração para festividade de cariz estritamente religioso. Antecede estes elementos profanos a parte religiosa do grandioso e longo cortejo que percorre toda a cidade, desde a Igreja Matriz até à Igreja de Nossa Senhora da Piedade e dos Santos Passos (Sameiro). Apresentam-se na parte religiosa da procissão a cruz paroquial, seguida das crianças em procissão de fé, das cruzes paroquiais das freguesias e as das confrarias, prosseguindo com um amplo conjunto de quadros bíblicos, a representação das ordens, os acólitos, e, finalmente, o pálio que protege o elemento mais sagrado, a Custódia com o Santíssimo Sacramento, e as autoridades.
Procissão 2018