A Bicha Serpe no Cortejo Profano da Procissão do Corpo de Deus
A Bicha Serpe, ou apenas Serpe, é um dos elementos mais constantes das procissões do Corpo de Deus, figuração das forças do Mal vencidas pelo Corpo de Deus Sacramentado. A sua origem remete para o Apocalipse de São João e tem raízes no Antigo Testamento, tendo sido introduzida na procissão do Corpus Christi para reforçar a ideia de que a crença em Cristo, de corpo presente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, vence todo o mal e o pecado que se personifica na Serpe.
Eram responsáveis pela Serpe, segundo o Tombo das Festas do Corpo de Deus de 1657, os carpinteiros do lugar de Arrifana de Sousa e os de uma légua em redor, descrevendo-se a mesma no Tombo de 1705 como “(…) hum corpo de madeira com a forma de Cerpe, vestida toda de hum pano pintado com escamas, e azas (…)”, sendo movida por vários homens que se encontravam no interior da estrutura.
Elemento extremamente popular da festa, este dragão alado passou por diversas formas ao longo do tempo, mas gerava sempre grande alvoroço entre a multidão, surgindo habitualmente com silvas colocadas à sua volta ou na cauda, costume que veio a ser suprimido pelos desacatos que causava entre a assistência.
A Bicha Serpe sai de véspera, integrando a Cavalhada, e no dia do Corpo de Deus cabe-lhe abrir o cortejo processional, sempre acompanhada pelo seu Juiz, que a traz bem presa por uma corda. Contudo, por várias vezes ao longo do séc. XIX este elemento foi suprimido das festividades, e no final da década de trinta do séc. XX, a Serpe caiu em desuso e chegou mesmo a desaparecer por várias décadas, reabilitando-se a sua presença nas Festas do Corpo de Deus em Penafiel em 1989.